Você nem precisa acompanhar o noticiário para saber que os combustíveis estão mais caros. Basta ir a um posto de gasolina, calcular o frete da sua compra online ou ver o preço da corrida no aplicativo de transporte. Cada vez mais, os combustíveis estão pesando no bolso dos consumidores, de forma direta ou indireta, e muita gente se pergunta por que a gasolina está tão cara.
Em 2021, os combustíveis foram os vilões da inflação do país: eles ficaram 49% mais caros, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Somente a gasolina aumentou 47,49%.
E esse cenário está se repetindo em 2022. De janeiro até maio, a gasolina já ficou 8,83% mais cara. O etanol já subiu 2,63% e o óleo diesel já disparou 28,49%. Mas por que a gasolina está tão cara? O que está acontecendo com o preço dos combustíveis? Eles vão ficar mais caros? Entenda os motivos para tantos aumentos.
Por que a gasolina está tão cara?
Não é só a gasolina. Outros combustíveis que fazem parte do dia a dia dos brasileiros, como o etanol e o gás de cozinha, também sentiram o peso desses aumentos.
O preço médio da gasolina comum nos postos de combustível era de R$ 4,579 no país em janeiro de 2020, antes da pandemia. Em junho de 2022, esse preço já era de R$ 7,235, segundo dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), um crescimento de 58%.
Existem motivos internos e externos que afetam o preço dos combustíveis. Em primeiro lugar, no Brasil, a Petrobras é a empresa que domina o mercado de extração de petróleo, ou seja, é ela quem retira o óleo do fundo do mar ou solo. Ela cuida do início do processo para que os combustíveis cheguem até você. Por isso, os movimentos da empresa impactam os custos que você sente no bolso.
O caminho dos combustíveis
Veja o caminho que o combustível percorre da extração do petróleo até os postos de gasolina. Lembre que, a cada etapa, vão sendo adicionados custos.
- A Petrobras faz a extração do petróleo, a matéria-prima dos combustíveis;
- Esse petróleo passa por uma fase de refino, que é quando ocorrem vários processos químicos para transformar esse petróleo bruto em diversos produtos, como gasolina, óleo diesel e o GLP, o famoso gás de cozinha;
- Depois, a Petrobras vende esses combustíveis para as distribuidoras e revendedoras;
- Essas empresas, por sua vez, vendem para você, nos postos de distribuição, que são os postos de gasolina e as revendas de gás.
Em outras palavras, o preço que você paga na ponta não é definido pela Petrobras, mas pelas distribuidoras e revendedoras.
Contudo, se a Petrobras aumentar o preço para as refinarias, essa alta vai sendo repassada a cada etapa, até chegar em você. E a empresa aplicou vários reajustes nos últimos meses. Em 2021, ela subiu 11 vezes o preço da gasolina e 9 vezes o do diesel. Já em 2022, mais reajustes para as refinarias aconteceram.
Por que a Petrobras está subindo os preços?
Para entender o que está acontecendo e por que a gasolina está tão cara, é preciso voltar em 2016. Naquele ano, a Petrobras adotou o Preço de Paridade de Importação, o PPI. Traduzindo: a partir daquele momento, os preços adotados pela empresa no Brasil acompanhariam os preços do mercado de combustíveis internacional, que é cotado em dólar.
Por que a política de preços foi alterada? Entre outros motivos por causa do mercado internacional. Para dar conta da demanda no Brasil, a Petrobras precisa comprar um tanto de combustíveis lá fora. E o mercado internacional é cotado em dólar. Em outras palavras, a empresa recebia das refinarias em real, mas precisava gastar em dólar, e a conta não estava fechando.
É como se você comprasse uma bicicleta por R$ 100 e revendesse por R$ 80. Nessa operação, você saiu com um prejuízo de R$ 20. Tudo isso sem contar transporte, armazenamento do produto e outros custos. A Petrobras estava tendo prejuízos com essas operações e ficando endividada.
"A PPI veio para que a empresa ficasse competitiva frente às outras empresas do mercado internacional. A paridade nivela o preço. Não nivelar deixa ela menos competitiva. Os investidores comparam a empresa com outras do mercado. E é o investidor que coloca dinheiro na empresa", explica Eduardo Perez, analista de investimentos do Nubank.
Mas por que a Petrobras precisa importar se o país é autossuficiente em petróleo?
O país é autossuficiente na extração de petróleo, mas uma parte desse petróleo não é do tipo ideal para produzir combustível suficiente para atender ao consumo interno. Além disso, o país não consegue refinar todo o petróleo que extrai.
É a partir do refino que são produzidos os combustíveis. Ou seja, o país não tem refinarias suficientes para transformar todo o petróleo que extrai em combustíveis. É como se você tivesse todos os ingredientes para fazer um bolo, mas não tivesse a batedeira, a assadeira ou o forno para deixar ele pronto.
Por isso, a empresa exporta o petróleo bruto que não consegue vender aqui dentro, importa petróleo que consegue vender para as refinarias brasileiras e também compra combustível pronto para ser consumido. Em torno de 15% da gasolina, 25% do diesel e 30% do gás GLP são importados.
Daí que se os preços lá fora sobem, a empresa paga mais caro na hora de comprar esses combustíveis de que ela precisa para atender a demanda do país. Quando uma loja paga mais caro pelo produto, você já sabe: ela repassa esse aumento para o preço final.
Em outras palavras, os aumentos feitos pela Petrobras são para compensar os gastos maiores em dólar e explica parte do por que a gasolina está tão cara. Mas não é só isso. A desvalorização do real frente ao dólar dificulta ainda mais as coisas.
Como assim?
É que quando o dólar sobe, na comparação com o real, a empresa paga ainda mais caro pelos combustíveis que compra lá fora. Na prática, precisa compensar esse custo maior repassando essa diferença para as refinarias. E o ciclo de repasse volta a acontecer.
Resumindo: a Petrobras é afetada por tudo o que acontece no mercado internacional de petróleo e combustíveis. E, nos últimos dois anos, aconteceram muitas coisas que resultaram em um aumento ainda maior no preço dos combustíveis, como a disparada do petróleo no mercado internacional.
O que aconteceu com o petróleo e os combustíveis lá fora?
Um desequilíbrio entre oferta e demanda. Lá no início da pandemia, em 2020, muitos países adotaram políticas de distanciamento e isolamento social.
Com tanta gente no mundo em casa, a demanda por combustíveis caiu. Os produtores, então, diminuíram o ritmo de produção para não ficar com estoques encalhados.
Quando as economias voltaram a se aquecer, em 2021, muitos países precisavam de petróleo para dar conta desse retorno. Mas a produção não conseguiu acompanhar o ritmo da demanda. Quando você tem muita busca por um produto, e pouco desse produto no mercado, ele começa a ficar mais caro. Foi o que aconteceu.
Em 2021, o barril do petróleo foi registrando recorde atrás de recorde. Em janeiro de 2022, ele chegou a US$ 88, o maior preço em sete anos. Havia estimativas de que o valor chegaria a US$ 100 antes que a oferta e a demanda voltassem a se equilibrar. Mas antes que o mercado se ajustasse, a Rússia invadiu a Ucrânia.
Uma guerra no meio do caminho
A Rússia é um grande produtor de petróleo. O conflito e as punições econômicas aplicadas ao país estão afetando o equilíbrio da oferta de petróleo no mundo. Isso tem feito o preço dessa commodity disparar.
Em março de 2022, o preço do barril chegou aos US$ 140, o maior valor em 14 anos. Os efeitos disso você já conhece: é repasse atrás de repasse até chegar nas bombas dos postos.
Esses fatores externos não afetam apenas o Brasil. Muitos países estão registrando aumentos recordes nos preços dos seus combustíveis por causa desse desequilíbrio, como é o caso dos Estados Unidos.
Contudo, por aqui, a desvalorização do real encareceu ainda mais essa conta.
Além disso, segundo Eduardo Perez, a inflação por aqui não tem ajudado. "A nossa inflação continuou acelerando, e isso também pressiona o dólar, porque com o aumento nos juros dos Estados Unidos, o investidor tira dinheiro daqui para colocar lá. Isso puxa o dólar para cima", explica.
Como é formado o preço dos combustíveis?
O fato de os preços da Petrobras acompanharem o mercado internacional e o aumento do dólar ainda não justificam totalmente o aumento dos combustíveis.
Como você viu, a empresa não determina o preço na bomba, mas o preço que ela adota para vender para as refinarias, que vendem para as distribuidoras e revendedoras – são elas que definem o preço que você sente no seu bolso.
O preço que chega até você não é apenas o valor que a distribuidora pagou para a Petrobras. Ele também considera impostos federais e estaduais, como o ICMS, além de taxas.
Em junho, cerca de 38% do preço final da gasolina é da Petrobras. No botijão de gás, essa fatia é maior, em torno de 48%. Já no diesel, está em 63%.
E o etanol? O que está acontecendo com ele?
Como nada na economia funciona de forma isolada, o aumento nos preços dos combustíveis derivados de petróleo também afeta o preço do etanol. Tudo, de novo, por causa da oferta e da demanda.
Com a gasolina subindo há tanto tempo, ocorreu um aumento na busca por etanol. Como a produção desse combustível é limitada, não houve um aumento na oferta. Resultado: os preços desse combustível subirem também.
Mas há semanas em que o etanol fica mais barato. Como saber quando é mais vantajoso abastecer com etanol ou com gasolina?
Há algum tempo, usava-se a regra dos 70% para calcular se o preço de um combustível é mais vantajoso que o outro. Mas hoje, já tem gente usando a regra dos 75%. Esses números "mágicos" têm relação com o desempenho dos carros com gasolina comum – que tem 27% de etanol anidro na sua composição.
Funciona assim: se o valor do etanol for de 70% a 75% do preço da gasolina, o etanol é mais vantajoso.
Para fazer essa conta, basta multiplicar o valor do litro da gasolina por 0,7 ou 0,75. Se o resultado for maior que o valor do litro do etanol, o etanol é a melhor opção. Caso o valor seja menor, a gasolina é a melhor opção.
Não tenho carro, esses aumentos me afetam?
Sim, afeta todo mundo. "Combustível e energia estão presentes em todos os produtos que você consome na economia. Todo mundo se locomove e consome. Mesmo que demore, todo negócio é impactado por combustível e eletricidade", reforça Eduardo Perez, do Nubank.
Em outras palavras, as empresas usam combustível no transporte ou na produção dos seus produtos. Esse aumento eleva esses custos. E esses custos vão ser repassados, em algum momento, para o preço final.
Existem setores que já estão sentindo essa alta, como é o caso do comércio eletrônico, que tem visto o preço do frete das compras subir. Nessa hora, muita gente desiste da compra.
O preço dos combustíveis vai subir mais?
Não tem como saber ao certo se os preços vão cair ou subir. Contudo, o cenário indica que pode vir mais altas por aí no ano de 2022.
É que segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço praticado pela Petrobras ainda está abaixo do praticado no mercado internacional. Essa diferença é de 9% para o diesel e de 8% para a gasolina, de acordo com o relatório do dia 21 de junho.
Além disso, a oferta e a demanda estão desequilibradas no mercado internacional.
"O preço vai parar de subir quando a demanda global encontrar um preço de equilíbrio para a oferta global. Pode demorar, não tem como prever, mas é uma questão de ajuste de mercado. Uma hora vai acontecer", afirma Perez.
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